quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Carta ao Papai Noel

Isaac Roitman

Meu querido Papai Noel. É a primeira vez que lhe escrevo. Como você deve receber muitas cartas de crianças, vou avisando que sou adulto. Mas o espírito natalino faz com que a criança que todos temos dentro de nós desperte, revivendo as esperanças de termos nossos sonhos realizados. Por isso resolvi escrever esta carta.
Não tenho idade nem ingenuidade para pedir o que todo fã de novelas da tevê pediria: ser milionário, morar em uma mansão, ter uma coleção de carros importados, ser famoso, enfim ser um protagonista, um falso herói, construído na perigosa telinha, que na maioria das vezes deseduca em vez de educar.
Eu queria que você distribuísse, entre outros presentes, um saquinho de sabedoria para todos, para os governantes e governados, para as crianças e principalmente para os adultos.
Essa sabedoria certamente faria com que nosso planeta pudesse continuar a ser um lar para todos os seres vivos e particulamente para a família humana. O planeta demonstra sinais de esgotamento, estimulando competições, desigualdades e guerras. O quadro é agravado por uma crise social e econômica decorrente do jogo financeiro e da má distribuição de renda, que já desestabiliza países considerados ricos, que vêm sofrendo uma lenta invasão de miseráveis de todas as partes do planeta, em busca de sobrevivência e oportunidades.
Estamos diante de uma encruzilhada. Se pensarmos e agirmos coletivamente em prol do futuro de todos, faremos jus ao nosso nome biológico, homo sapiens sapiens, e deixaremos um legado virtuoso para as próximas gerações. Por seu lado, se nos omitirmos, seremos cúmplices da decadência da humanidade, que corre o risco de desaparecer.
Quando criança, ouvia repetidamente que “Deus é brasileiro”. Assim, presumo que seria legítimo nesta carta fazer alguns pedidos em nome do povo brasileiro. Gostaria de pedir que iluminasse nosso Brasil para termos uma reforma agrária séria que contribuísse para atingirmos um patamar civilizado de justiça social. Certamente acabaríamos com a fome e diminuiríamos o caos urbano, sem comprometer a nossa rica biodiversidade, fundamental para termos a pureza necessária em nosso ar e nas nossas águas.
Aos poucos abandonaríamos iniciativas e instrumentos tão importantes no presente como o Bolsa Família e as cotas para universidades. Concretizaríamos a utopia de um Brasil sem miséria, com uma vida digna para todos. A reforma agrária acompanhada de uma revolução na educação que pudesse oferecer uma formação de qualidade para todos os brasileiros seria fundamental para a conquista dessa utopia.
Outras dimensões seriam também importantes. Uma delas, a construção de sistema em que a promoção da saúde seria o carro-chefe e os equipamentos e serviços de saúde atenderiam com qualidade as demandas de todos. Um povo saudável e educado certamente proporcionará um cotidiano civilizado, com respeito ao próximo, sem violência urbana (assaltos, sequestros, agressões, homicídios, etc.) e moral: (falsas promessas, estelionatos, corrupção, etc.).
As leis construídas por parlamentares idôneos, respeitados e com espírito público, seriam cumpridas e a impunidade seria um capítulo triste do passado. Eu sei, Papai Noel, que estou pedindo muitas coisas. Sei que você não é um gênio da lâmpada e que seria muito difícil atender a todos os pedidos em um curto espaço de tempo. Proponho então dividir essa tarefa com todos os homens e mulheres, já que todos temos ainda um Papai Noel no coração, com uma vontade enorme de proporcionar alegrias e felicidades para todos. Meu Bom Velhinho, desculpe pelos desabafos e fantasias. Mas como diz a sabedoria popular, o maravilhoso da fantasia é nossa capacidade de torná-la realidade. Vou ficar observando o céu nas próximas noites com a esperança de ver uma estrela cadente e ouvir um alegre hô-hô-hô, que será o sinal da chegada de melhores dias para o nosso Brasil. Esse será o melhor presente de Natal para todos os brasileiros.
Isaac Roitman é doutor em Microbiologia e professor aposentado da UnB. É presidente do Comitê Editorial da Revista Darcy.

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