sexta-feira, 9 de março de 2012

Açúcar é tão danoso quanto álcool e tabaco

ARTIGO


Fabiana Nalon, mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília

No dia 2 de fevereiro deste ano, a revista Nature publicou o artigo The Toxic Truth About Sugar, em que os autores afirmam que os açúcares adicionados aos alimentos representam perigo para a saúde. Para eles, a ameaça é tamanha que justificaria controle semelhante ao que é feito com o álcool e o tabaco. Os autores sugerem que a regulação poderia ser feita por meio de impostos extras, proibição das vendas em horário escolar e limite de idade para a compra.

Sabe-se que tabaco, álcool e dieta inadequada são fatores de risco importantes para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, câncer e doença cardiovascular. Considerando a alta prevalência de tais doenças e o elevado índice de morbidade e mortalidade das mesmas, as intervenções se justificam como uma questão bastante relevante para a promoção da saúde.

No entanto, controlar a venda de alimentos ricos em açúcar é mais complicado do que regular o consumo de álcool e tabaco. O açúcar integra inúmeras receitas que compõem a alimentação cotidiana de diversos grupos populacionais. O álcool e o tabaco sempre possuíram uso restrito para a maior parte dos povos. Além do mais, o açúcar é barato, tem sabor agradável e grande aceitabilidade, o que faz com que a indústria de alimentos não tenha incentivo para mudar.
É fato que, apesar dos avanços no conhecimento acerca dos males provocados pela ingestão excessiva de açúcar, o consumo do mesmo triplicou mundialmente nos últimos 50 anos, inserido no contexto da dieta ocidental rica em alimentos altamente processados e de baixo custo.

Os alimentos in natura possuem pouco açúcar quando comparados com os alimentos processados industrialmente. O consumidor certamente não sabe que 1 copo de suco industrializado, pronto para consumo, possui o total de carboidratos equivalente a 2 colheres de sopa de açúcar refinado. Tal informação pode ser extraída na embalagem do produto. Infelizmente, as informações nutricionais contidas nos rótulos dos alimentos industrializados ainda são pouco utilizadas pelo consumidor.

A substituição do açúcar pelos adoçantes dietéticos é uma alternativa necessária e eficiente para as dietas especiais, como é o caso dos diabéticos. No entanto, o consumo excessivo de adoçantes dietéticos não educa o paladar e não resolve o problema da ingestão exagerada de açúcar. Ao consumir grande quantidade de adoçante dietético o paladar conserva a preferência pelo sabor doce.

Trata-se de uma questão bastante relevante e muitas vezes desprezada, que é o dano ao paladar induzido pelo consumo exagerado de uma série de aditivos, dentre os quais podemos incluir o glutamato monossódico, presente nos alimentos salgados. O consumo constante de alimentos muito doces ou muito salgados atrapalha o desenvolvimento do gosto por alimentos de sabores suaves como é o caso das frutas e hortaliças. O resultado são grupos populacionais com baixo consumo de frutas e vegetais, que são alimentos fonte de fibras e elementos antioxidantes capazes de proteger o organismo de uma série de doenças crônicas.

Além de buscar alternativas educativas para informar a população quanto aos perigos do excesso de açúcar, é preciso também que o consumidor aprenda a identificar em quais alimentos este açúcar se encontra e, acima de tudo, incentivar o consumo de alimentos e bebidas no seu estado natural, especialmente as frutas, os vegetais e a água.


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