sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poder policial
Uma estranha conjunção de fatos, antigos e recentes, trouxe à tona uma questão delicada que domina o jogo político do Distrito Federal e que não pode mais ser desprezada. Como lidar com a influência de uma categoria – no caso, a polícia – sobre governo e Estado? A pergunta deve ser levada à sério. Por quê? Por vários motivos. Alguns deles envolvem o legítimo direito de participação política e a correta repartição de espaço no debate público. Outros, que serão tratados em outro texto, envolvem o submundo da guerra pelo poder.
O primeiro desses motivos é que cinco dos 24 atuais deputados distritais – inclusive o presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal Patrício (PT) – estão ligados aos quadros de alguma corporação. Tudo muito bom, tudo muito bem, pois qualquer categoria tem direito de representação. Mas não será exagerada a ocupação de 20% das cadeiras da Câmara Legislativa? E quanto às demais categorias, que não possuem nenhum eleito na Casa? Não será essa uma distorção?

O segundo motivo está diretamente ligado ao primeiro. A representação exagerada de uma categoria lhe dá grande poder de pressão e barganha sobre a Casa. Aqui cabe um exemplo trivial: a sessão plenária desta quinta-feira (3), presidida pelo deputado Dr. Michel (PSL), foi encerrada às 15h25 da tarde sem nenhuma votação, cinco minutos antes do prazo protocolar de espera para a verificação do quórum. Poucos eram os deputados no plenário, é verdade, e muitos são os interesses. Mas o atraso nas votações é um problema para a Câmara e contou com a colaboração do presidente da sessão, pouco interessado na continuidade.

Em greve branca há um mês, o vice-presidente e os distritais Cláudio Abrantes (PPS) e Wellington Luis (PPL), que são egressos da Polícia Civil (PC), parecem não ter motivos para votar nada. Pelo menos até que o governo atenda às reivindicações da categoria que, por acaso, na tarde de hoje (às 15h), estava reunida em assembléia, em frente ao Palácio do Buriti, sede do poder Executivo do DF. Estavam lá para cobrar o cumprimento de um acordo firmado entre a Polícia Civil e o GDF, em abril deste ano. Detalhe: na mesma hora da sessão plenária que não houve.
O direito de greve é uma garantia dos trabalhadores, o de obstruir as votações, de qualquer deputado. Mas é a população, prejudicada pela ausência dos serviços e de votações importantes, que sofre as conseqüências.

Fonte: Câmara em Pauta

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