quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sem médicos, a Saúde não funciona


O maior problema na rede pública de saúde do Distrito Federal há algum tempo é a falta de médicos. Pacientes sofrem com as filas e esperas intermináveis nas unidades de saúde. Nem mesmo a sonhada estabilidade oferecida pelo serviço público é capaz de atrair esses profissionais para atuar nos hospitais, centros de saúde e UPA.
Os hospitais públicos de Brasília já foram referência pelo quadro de médicos que possuía. Hoje, vários são os fatores que afastam os médicos da rede pública: as condições precárias de trabalho, baixos salários, falta de medicamentos, muitos pacientes . A situação se tornou tão insustentável que 60% dos candidatos aprovados em concurso não tomam posse e poucos respondem aos editais para concursos.
  Algumas especialidades têm menos médicos que outras, como a pediatra, já que os novos médicos preferem fazer residência em especialidades consideradas mais lucrativas, como cardiologia e dermatologia. Assim, sobram poucos profissionais interessados no serviço público.
Embora o salário de Brasília seja o melhor do país, ainda não é o ideal. Alguns plantões de 12 horas em hospitais particulares rendem R$ 1,5 mil. Isso faz com que o médico ganhe em três dias, o que ganha em um mês em hospitais públicos, com carga de trabalho de 20h. Sem falar que o trabalho não é tão cansativo.

“As reclamações são muitas, pois a estrutura na rede é precária e a falta de medicamentos são fatores que também desestimulam os profissionais. Faltam seringas, sondas, materiais básicos para o médico trabalhar. Casos de violência por parte de pacientes, por conta da demora no atendimento deixam os profissionais apreensivos”,afirma o médico clínico Fábio de Sousa.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal(SindMédico), Gutemberg Fialho, a categoria já apresentou uma proposta de reformulação de cargos e salários ao Governo. “ A entrada de médicos na Secretaria de Saúde tem que ser atrativa. O que ocorre hoje? Nós temos um plano de cargos e salários que leva 25 anos para um médico ter um salário razoável, enquanto os de início de carreira têm um salário muito baixo. Diante disso, o médico entra no serviço público e seis meses depois pede demissão. Uns saem no mesmo dia”, explica Gutemberg Fialho.
No último concurso, foram aprovados 94 clínicos e 91 pediatras. Desse total, 60 foram aprovados, mas somente 34 entraram em exercício. Hoje, apenas 19 continuam na rede pública. A coisa fica pior, levando-se em conta o número de médicos que estão se aposentando. O número de médicos que estão se aposentando e pedindo demissão na Secretaria de Saúde é maior do que os que estão entrando. Faltam dois mil médicos de todas as especialidades na rede de acordo com os números do SindMédico, mas  as especialidades com menos médicos são pediatria,clínica médica e anestesia.
Para resolver esse impasse que foi se criando ao longo dos anos, o presidente do Sindicato dos Médicos acredita que sem dar condições de trabalho, salário atrativo não vai haver médicos para atender a população. “ Hoje o piso salarial  recomendado pela Federação Nacional dos Médicos é de R$ 9.118,27. Por enquanto nós fizemos duas assembléias e  até agora o Governo não apresentou nenhuma contraproposta. Nós estamos fazendo uma mobilização para que a população saiba que enquanto o Governo não melhorar as condições de acesso à rede pública, o médico vai fazer concurso e não vai entrar na Secretaria de Saúde”, lembra.
Segundo o sindicato, os médicos não pretendem fazer greve a curto prazo. A situação atual é considerada por muitos uma greve branca.
Maria de Fátima Santos, merendeira, afirma que o problema chave da saúde é o médico. “ Não adianta ter hospitais, remédio se é difícil encontrar médicos nos hospitais e centros de saúde. Todos nós que usamos  a rede sabemos disso. De uns anos para cá eles pedem demissão e o governo não faz nada”, reclama.
Maria Aparecida Silveira, fisioterapeuta concorda que o maior problema é a falta de médico: “Estou tentando marcar uma consulta na cardiologia para minha mãe e já vão três meses. O pior é que não tenho onde reclamar, pois me informaram no Posto que tudo é feito numa central. Tenho que esperar o telefonema.”
O secretário–adjunto Antônio Miziara diz que a Secretaria está estudando uma contraproposta para o plano de carreira dos médicos. Reconhece que o problema chegou ao topo e tem que ser resolvido. “Estamos segurando a fuga dos médicos da rede. Foi feita a incorporação da Gam. Estamos fazendo a contratação de médicos temporários, no caso de Santa Maria. Vamos fortalecer as UPAs”, ressalva o secretário-adjunto.
Questionado sobre médicos que não cumprem a carga horária e atendem em seus consultórios ou de hospitais privados no horário que deveriam está no hospital, Antônio Miziara lembra que está sendo implantado o ponto eletrônico que vai possibilitar maior controle da assiduidade dos profissionais na rede, em breve as condições de trabalho vão melhorar e programas de estudos atrairão mais profissionais.

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